quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Manoel De Barros








Ontem fui ao quintal de uma amiga. Decidimos por brincar. E, brincando, vimos uma árvore. Decorremos a árvore, ali, imensa. Imensa.


“Isto porque a gente foi criada em lugar onde não tinha brinquedo fabricado. Isto porque a gente havia que fabricar os nossos brinquedos: eram boizinhos de osso, bolas de meia, automóveis de lata.”


A árvore. Onde nunca fora. Nunca. Até que nossos olhos.






domingo, 15 de setembro de 2013

realinhamentos





Sei que é assim. Sinto e sei bem. Dizem ser a doença e não essa de mim. Essa em mim.

É a doença, Olga, é a doença chorando e não tu.

Eu vou chorar. A qualquer instante estarei chorando com as mãos sobre o rosto e não constituirei Olga sobre as mãos? Estou cronicando. Sou eu me doendo? Piorando. Quando posso ser? Em qual momento?

Ou

Há um momento onde quem chora sou eu?

Perceba. Estou perdendo para a minha imaginação.

É uma promessa? É uma proposta.








segunda-feira, 9 de setembro de 2013

de render para usar




Para Nydia Bonetti, rendedora de passarinhos.



Assim que é:
Passarinho é de render para dois para usar nas orelhas.



domingo, 8 de setembro de 2013

D.H. Lawrence





O ELEFANTE ACASALA DEVAGAR

O elefante, aquela besta enorme,
acasala devagar;
dá com a fêmea, e os dois quase dormem
ao aguardar

um quê de cortesia em seus grandes corações
tão lentos de inflamar
enquanto chafurdam nos aluviões
a beber, petiscar,

trombando em pânico pelas brenhas
da floresta com a manada,
ferram no sono por pausas ferrenhas,
acordam sem dizer nada.

Daí lentamente o enorme coração sem medo
enche-se de desejo
até a grande besta trepar, por fim, em segredo,
cobrindo-se de pejo.

Como esses paquidermes nada tem de tontos
já que, a sós, esperam até o fim
o momento em que a ceia está no ponto
de virar festim.

Eles não arranham ou acuam;
seu sangue abundante
move-se, mais e mais, como maré de lua
até se tocarem transbordantes.




D.H. Lawrence; trad. Ruy Vasconcelos








quinta-feira, 5 de setembro de 2013

escafandro









Se perguntarem da memória nas coisas, não das coisas, nas coisas que digo, direi que não há e logo mudarei de assunto.

Deixar que raspem o musgo da minha tumba?

E quero que saibam que o meu único propósito, enquanto a que diz, é o de jogar os cabelos para cá e para lá. Não gosto nem ser a que diz. Não sei onde quero chegar.

Mas deixar que raspem meu musgo?



quarta-feira, 4 de setembro de 2013